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segunda-feira, 10 de julho de 2017

O mundo se desfaz

Já tem um certo tempo que minhas postagens aqui no blog tem se relacionado a um único tema: envelhecer.


De certa forma, toda a minha produção ao longo dos anos (lembrando que esse blog e meu casamento são as coisas mais duradouras da minha vida! Ambos tem dez anos!), foi uma maneira de mostrar como eu via as coisas, primeiro a música, depois o cinema e agora todo o resto que chamam de realidade.

Logo, não posso dizer que não tentei fazer alguma coisa. Coisa essa, aliás, que todo humano tenta na face da terra: ser reconhecido por sua produção, ou produzir alguma coisa pela qual seja reconhecido. O que no fim dá no mesmo.


Mas a pauta de hoje, para mim, é perceber o quanto meu mundo está se desfazendo. Cada dia, a cada notícia que leio, cada personagem que ganhou certo protagonismo na minha vida e que morre, me aumenta a sensação de ver as coisas nas quais sustentei e baseei minha personalidade se desfazendo como pó.


Passei a me dar conta disso no dia em que o Jon Lord, tecladista do Deep Purple, morreu em 2012. Minha mulher – coitada – veio me contar de maneira desavisada que alguém do Deep Purple havia falecido, mas ela não sabia quem era. Quando fui buscar as notícias e vi que era o sujeito que me mostrou como o teclado pode ser coadjuvante e protagonista numa mesma música, e dali pra frente me interessei em tocar teclado também.




A partir dali, cada vez que percebo, estou vendo outro pedaço do meu mundo ir embora. Recentemente, perdi dois amigos que sempre foram minhas fontes e referências sobre música. No velório de um deles, meu irmão, de olhos cheios de lágrimas, vaticinou: “Envelhecer é perder amigos...”. E fiquei com essa frase reverberando na cabeça desde então.


Dia desses, vi uma reportagem sobre a Hebe Camargo. Ao final desta reportagem, lá estava eu aos prantos. Não por causa da saudade que eu sentia da Hebe. Mas do fato de minha vó gostar dela e toda segunda-feira, não importava o que eu quisesse ver, mas nada atrapalhava a vontade da minha vó assistir à Hebe.

Mais grave que só perder referenciais em pessoas, considero estar perdendo minha maneira de ser e estar no mundo. 

Nos últimos anos, certos assuntos que não eram discutidos, que não eram tabus, que não tinham relevância – apesar de merecerem ter – passaram a ser debatidos com mais vigor e constância. Isso não seria um problema se a quebra de certos paradigmas envolvendo esses assuntos não envolvessem a violência de certos discursos e tomadas de posição. Por exemplo: a questão feminista. Eu nem vou encostar meu dedão do pé para dizer alguma coisa sobre esse assunto. Concordo que é de extrema relevância e necessidade; mas daí eu, que nunca me comportei como o escroto que maltrata mulheres, ser malvisto porque sou homem, branco e heterossexual, as coisas vão muito mal.

No campo da sexualidade, também acredito que demos um salto gigantesco, uma vez que a transsexualidade já foi tratada numa série dentro do Fantástico. Mas agora, o que vejo é uma barreira gigante toda vez que eu, que fui criado dentro de um certo molde, onde todo amigo que demonstrava um comportamento culturalmente menos masculino, era chamado de “viadinho”; isso agora é tratado com o status de crime. Eu seri que não é o certo, mas é preciso entender que grandes mudanças internas não se dão da noite para o dia. E eu, mesmo errado, não posso ter todo e qualquer comportamento meu justificado para não ser condenado por uma patrulha que não perdoa quem ainda não se habituou de todo a um novo mundo que lhe surge.




Em outros tempos, daríamos a esse estranhamento que relato, o nome de “choque de gerações”. Isso seria ótimo. Mas não é o meu problema. Sou professor. Lido com a juventude e suas mudanças todo dia.

Meu choque se dá por não conseguir mais entender onde estou vivendo, o que estou fazendo, se o que estou dizendo está certo ou não. E esse choque fica pior quando seus referenciais são perdidos. A despeito da educação machista que eu tive, nunca tratei mal pessoas de sexualidade diferente da minha. A despeito de ter crescido num ambiente familiar que tinha pensamento e posicionamento de esquerda (e não vou nem tentar explicar o que é isso), eu cresci, estudei e tive que começar a pagar contas. Coisas que me fizeram repensar certas atitudes e pensamentos e não ser e pensar determinadas coisas que antes eu julgava serem naturais.

Sendo assim, sigo solitário. Sigo pensando que aos poucos eu vou ficando maluco. Pois, cada vez menos tenho interlocutores. E o que é pior: ironia das ironias, ninguém discorda de mim! Estou certo, mas não tenho mais espaço no mundo das coisas que aí está.

Inté!

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